Na semana em que se comemora o Dia do Jornalista, uma reportagem do moribundo O Diário, de Maringá, brindou seus leitores com uma página contendo nada menos que 42 erros. Requinte de crueldade: as reportagens faziam parte da editoria de Cultura (!) e duas delas estavam relacionadas a trabalhos de literatura (!!) e jornalismo (!!!). Entre os “deslizes”, havia erros de pontuação e concordância gramatical, palavras suprimidas, frases incompletas, repetições e outros acintes a regras básicas da escrita jornalística, coroados com uma foto (mal) feita em formato “self”. Algo que ninguém sonharia encontrar, até pouco tempo atrás, naquele que já foi um dos maiores periódicos do norte do Paraná. Aos curiosos: constatem a situação no caderno de Cultura, do dia 4 de abril, de O Diário.

É um (im)perfeito exemplo do que acontece quando uma empresa se propõe a fazer um jornal… sem jornalistas. Neste sábado (7), faz exatamente dois meses que boa parte da redação de O Diário deixou de trabalhar para exigir os salários suspensos desde novembro e o pagamento de outros direitos ainda mais atrasados. Com uns poucos profissionais que não aderiram à greve, mais alguns contratados para substituir os grevistas (o que é vetado por lei), o jornal continuou sendo distribuído.

Nada há de virtuoso ou heroico nisso, pelo contrário: trata-se de grave desrespeito com os leitores, o jornalismo e a história do próprio jornal. Quando se torna impossível manter padrões mínimos de qualidade, melhor é suspender o produto. Mas vindo de quem relativizou a necessidade de pagar um trabalhador por seu trabalho – isso 130 anos após a abolição da escravatura no Brasil –, não chega a ser surpresa ver conteúdo e correção em segundo plano.

Se O Diário escancarou a desvalorização dos jornalistas, é triste constatar que outras empresas de comunicação seguem tendência parecida, ainda que em menor escala (mas em franca decadência). Frequentemente, cargos de chefia têm sido preenchidos seguindo critérios de subserviência aos desejos do patronato, ainda que o escolhido não tenha experiência ou mesmo competência na área de atuação. Tais chefes, por sua vez, dão preferência nas contratações e promoções a profissionais predispostos a aceitar tudo que lhes é imposto sem reclamar.

E aí se vê empresas a lamentar a debandada de leitores/ouvintes/telespectadores para as mídias sociais e a culpar as novas tecnologias, ignorando que foram elas mesmas que desvalorizaram seu produto ao desvalorizar quem o produz. Aqui vai mais uma menção a O Diário, que infelizmente se tornou vitrine de má administração na imprensa: em recente audiência de ação judicial relativa à greve, um representante da empresa alegou que a mesma se afundou ainda mais em crise financeira porque “ficou sem a essência do jornal: os jornalistas”. Pena que admitiram isso tarde demais.

Nesses tempos de “fake news”, muitos consumidores de notícias também começam a perceber que postagens em redes sociais e compartilhamentos em grupos de mensagens não substituem o trabalho de jornalistas. Estaremos nós, profissionais, preparados para atuar como fontes mais seguras de informação, sem esquecer ainda de bom conteúdo e forma? Ou vamos nivelar nossa qualidade por baixo (assim como nossos salários), como parecem querer muitos empresários da comunicação?

São apenas algumas reflexões a se fazer neste 7 de abril. Parabéns a todos os jornalistas que remam contra a maré para valorizar a profissão e, consequentemente, valorizar quem busca a notícia. Afinal, os jornalistas – isso até os patrões sabem, ainda que finjam o contrário – são a essência do jornalismo.

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