Jornalistas da Folha de Londrina não estão recebendo seus salários em dia há meses. Do décimo terceiro de 2021 não acessaram nem um real. Enquanto a empresa não cansa de nos surpreender pelo desrespeito com seus funcionários, seu proprietário, Nicolás Mejía, não cansa de nos sobressaltar com sua desfaçatez.
Em uma publicação recente em rede social profissional, o empresário compartilhou texto de sua autoria em que trata do “sentimento de pertencimento” que, em tese, levaria os funcionários a se sentirem parte da empresa, parte “de uma família”. Na teoria – estudada pelos campos da comunicação e do marketing, como aponta Mejía – a relação forte com a organização transformaria o trabalho em algo para além de “uma relação de serviço e remuneração”. Fica a dúvida: estaria o empresário falando de seus próprios funcionários? Aqueles com quem comunga somente as perdas, nunca os ganhos?
Mejía segue classificando o pertencimento como “uma crença subjetiva de algo em comum que une distindos indivíduos como membros de uma coletividade, que expressam valores e aspirações em comum”. Bonito na teoria; na prática, o que Mejía faz com seus funcionários é negar-lhes o direito básico ao salário, à dignidade da renda que lhes garante a sobrevivência. Há casos de jornalistas com contas básicas em atraso em decorrência dos salários pagos a conta-gotas e ao bel prazer do empresário-padrão, digno de discorrer sobre clima organizacional entre seus iguais. Talvez os leitores do texto de Mejía – voltado para publicação empresarial – enquadrem-se no que ele classifica como “coletividade”; talvez expressem “valores e aspirações em comum” com ele. Funcionários com salários atrasados certamente não.
Em rara reunião com seus jornalistas, há poucos meses, Mejía pediu paciência aos mesmos. Completou que “o pior ainda não chegou”, referindo-se à situação econômica da empresa. O que queremos saber, enquanto entidade de classe que realmente pensa na coletividade, é quando os ganhos serão socializados. Será que Mejía também tem recebido seu pró-labore a conta-gotas? Será que já precisou atrasar suas contas de água e luz? Ou tem socializado apenas as perdas?
Reiteramos nosso apoio aos jornalistas da Folha de Londrina, que seguem cumprindo seus deveres enquanto funcionários, sem deixar de exigir da empresa que cumpra os dela. Da relação empresa-funcionário espera-se respeito, não tapinha nas costas e discurso ilusório de “família”.
Imagem/destaque: Reprodução LinkedIn, com inserção de ícone de Freepik (via Flaticon)