Uma pesquisa promovida pelo Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho (CPCT), vinculado à Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), evidencia o aumento da jornada e no ritmo de trabalho de comunicadores em mais um ano de Covid-19. Um relatório, que ganhou o nome “Como trabalham os comunicadores no contexto de um ano da pandemia da Covid-19: …1 ano e 500 mil mortes depois“, já está disponível em formato PDF no site do ECAclique aqui para acessar .

O estudo, ocorrido entre 5 e 30 de abril de 2021, exatamente um ano após a primeira pesquisa realizada em 2020, contou com o apoio de 25 instituições e entidades profissionais, acadêmicas e científicas da área de Comunicação.

Foram coletadas no período respostas de 1.018 pessoas. Após verificação, houve a validação de 994 respondentes – espalhados por todos os 26 estados brasileiros e o Distrito Federal, além de dois comunicadores que vivem no exterior (México e Holanda).

“As respostas compõem um conjunto de informações sobre as rotinas de trabalho, as condições em que são realizadas, as dificuldades, os desafios e os temores dos profissionais que atuam na área de Comunicação. Estamos falando de profissionais que trabalham no jornalismo, na comunicação das organizações de diferentes perfis, instituições públicas e privadas, internamente ou via agências de comunicação e de publicidade, prestando serviços também a personalidades, autoridades e empresas de mídia”, conta a professora Roseli Figaro, que é coordenadora do CPCT.

Em comparação à pesquisa de 2020, houve um aumento de mais de 78% de participantes – em abril do ano passado foram 557 respondentes. Desse público inicial, 23% responderam ao novo questionário.

Entre outros dados, a investigação atual apresenta o seguinte cenário:

  • 59% dos respondentes são mulheres;
  • 68% das pessoas declaram ser de cor branca; pardos são 20% e pretos, 9%;
  • 35% dos trabalhadores têm entre 31 e 40 anos;
  • 170 profissionais moram sozinhos; 276 com até uma pessoa e 251 com até outras duas;
  • 49% são solteiros e 58% não têm filhos;
  • 513 profissionais têm pós-graduação e 528 são graduados em Jornalismo;
  • A grande maioria (894) exerce trabalho remunerado; 100 comunicadores não têm, no momento, atividade remunerada;
  • 257 trabalhadores ganham entre 2 e 4 salários mínimos (entre R$ 2.200 e R$ 4.400);
  • 68% atuam exclusivamente na modalidade home-office;
  • WhatsApp e e-mail são as ferramentas mais usadas no trabalho;
  • Houve aumento da jornada e do ritmo de trabalho em relação ao período anterior à pandemia;
  • Para 61% dos respondentes, as despesas com o trabalho aumentaram, sendo os principais gastos, respectivamente, com energia elétrica, alimentação e internet;
  • 68% dos comunicadores sofreram algum tipo de adoecimento, sendo que 165 tiveram covid-19.

Segundo Roseli Figaro, a pandemia tem feito com que comunicadores sejam muito requisitados nas atividades que desempenham em diversas esferas de atuação, tanto profissional quanto pessoal. “Neste período de pandemia, o distanciamento social foi adotado como ação profilática principal para evitar ainda mais danos. O mundo do trabalho foi transportado para um universo paralelo de controvérsias sobre o que e como fazer para se manter a atividade laboral”, afirma.

Exemplo disso são os dilemas envolvendo o home-office e a adoção do sistema misto de trabalho (presencial e remoto), que aparecem no relatório. O ritmo de trabalho intenso em um contexto social adverso, junto aos desafios próprios destas novas modalidades laborais – como a separação do tempo entre trabalho, tarefas domésticas, descanso e lazer – gera novas problemáticas e intensifica outras que já existiam.

Fonte: Figura 7 – Pesquisa CPCT, 2021, Como trabalham os comunicadores no contexto de um ano da pandemia de Covid-19?

“Como realizadores de trabalho essencial para a sociedade, os trabalhadores da comunicação têm enfrentado todo tipo de dificuldades para manterem-se em atividade. Os resultados da pesquisa indicam a necessidade de repensarmos as formas de organização do trabalho, a urgência de condições dignas e sustentáveis para o exercício profissional e os necessários cuidados com a saúde física e mental desses profissionais”, pondera a coordenadora do CPCT.

Texto: Jamir Kinoshita via FENAJ, com modificações do Sindijor Norte PR

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