Sem uma proposta decente, patrões nem deram as caras na mesa de negociação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) com os sindicatos de jornalistas realizada ontem (16) em Curitiba. Representados por advogados, os sindicatos dos donos de empresas de Rádio e TV e de Jornais e Revistas chegaram à reunião com o mesmo documento anterior. Ao longo do encontro, se dispuseram a fazer “ajustes”, recuando em alguns pontos rechaçados pela categoria, mas deixando “armadilhas” em outros.

O patronato sinalizou que pode manter o pagamento de 100% sobre a hora extra, depois de propor redução dos percentuais para 50% e 75%. Também pode desistir de congelar o anuênio para os funcionários com 25 anos de casa, que continuariam tendo acréscimo de 1% a cada ano no salário (hoje o anuênio para trabalhadores nessas condições salta de 25% para 50%, mas a maioria é demitida antes disso). Representantes das empresas falaram ainda em manter como está a cláusula que trata de demissões em massa – a proposta anterior era retirá-la da CCT.

Acenaram também com a possibilidade de não mais retirar a cláusula que submete acordos de bancos de horas à negociação intermediada pelos sindicatos. Mas – e aí é que mora o perigo – querem colocar uma exceção para acordos com duração de até seis meses. Para estes, não haveria interferência dos sindicatos e sequer regras. Uma brecha para que se retire uma série de direitos por meio de tais acordos, uma vez que, com a Reforma Trabalhista, o acordado vale sobre o legislado.

Com relação ao reajuste salarial, o patronato não passou dos 2% já oferecidos. Um pífio reajuste já engolido pela inflação (principalmente aquela que foge aos índices oficiais, mas que todos sentimos no bolso) e ainda condicionado à aceitação das demais propostas das empresas. “Os patrões querem retirar muitos de nossos direitos e, em troca, dar 0,3% de aumento real. É muito pouco, para não falar nada. É complicado vir de Londrina até aqui para ver que simplesmente não há proposta. Essa demora só prejudica os jornalistas, pois ficam sem a reposição e sem a proteção da CCT”, avaliou o presidente do Sindijor Norte PR, Danilo Marconi, que viajou à Capital acompanhado do secretário de Sindicalização e Exercício Profissional, Luis Fernando Wiltemburg.

“Os patrões querem retirar muitos de nossos direitos e, em troca, dar 0,3% de aumento real. É muito pouco, para não falar nada.” – Danilo Marconi, do Sindijor Norte PR

Os demais itens da pauta dos trabalhadores foram simplesmente ignorados pelos patrões. Demonstraram, mais uma vez, falta de disposição para o diálogo com os jornalistas. “Quando pedimos a união dos jornalistas não é para ser chato ou para ajudar o sindicato. É para evitar que a nossa profissão fique cada vez mais desmoralizada. É para proteger a categoria. É para lutar contra a retirada dos nossos direitos. Somente unidos poderemos reverter esta situação”, convocou o presidente do Sindijor-PR, Gustavo Vidal.

“Quando pedimos a união dos jornalistas não é para ser chato ou para ajudar o sindicato. É para evitar que a nossa profissão fique cada vez mais desmoralizada.” – Gustavo Vidal, presidente do Sindijor-PR

União já demonstrada pelos jornalistas de Londrina, Maringá e região, que compareceram em peso às assembleias gerais realizadas pelo Sindijor Norte PR no mês passado.

O “não” unânime à indecorosa proposta patronal pesou na mesa de negociação. Patrões aceitaram recuar em alguns pontos, mas continuam retirando importantes direitos. Precisamos intensificar a mobilização para não perder nada, e mais ainda para ganhar um pouco. A negociação não acabou.

Fotos: Luis Fernando Wiltemburg

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