Uma pesquisa para entender o perfil dos jornalistas profissionais do Paraná expôs que os salários no Estado são insuficientes para atender as necessidades dos trabalhadores. O dado é o que mais preocupa, uma vez que 9 em cada 10 pessoas que responderam o questionário consideram ter rendimentos abaixo do que precisam. O levantamento, que também trouxe perguntas sobre as prioridades da Categoria, foi promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná (Sindijor Norte PR) e Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR) entre os dias 1 e 10 de fevereiro. As respostas já estão sendo analisadas por diretores dos dois Sindicatos e contribuem para a negociação da Campanha Salarial deste ano, com o fechamento de mais uma Convenção Coletiva de Trabalho (CCT).
Baixe o Resultado da Pesquisa da Campanha Salarial 2022/23 completo em PDF clicando aqui .
Ao todo os Sindicatos receberam 159 respostas em um questionário disponibilizado por meio da plataforma Google Formulários. Boa parte dos participantes disse ter o registro profissional de jornalista, popularmente conhecido MTb. É um documento regulamentado emitido pela Delegacia Regional do Trabalho (DRT), hoje chamada de Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE), vinculada ao Ministério do Trabalho e Previdência.
É importante que jornalistas façam seus registros como profissionais. Além de identificação de classe, é algo que fortalece a Categoria aos olhos de entidades governamentais. Tem dúvidas sobre como ter o seu registro? Diretores e as secretarias dos Sindicatos estão à disposição para ajudar na obtenção.
Quando o assunto é o local de trabalho dos jornalistas, Emissoras de TV representam maioria, com Assessorias de Imprensa em segundo e Jornais Impressos/Digitais em terceiro.
Sobre a jornada, grande parte afirma trabalhar por 5 horas, tempo estabelecido aos jornalistas pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), mas logo em seguida há quem tenha informado trabalhar acima disso e sem Banco de Horas (BH) ou recebimento de Horas Extras (HE), indicações que preocupam os Sindicatos que representam a Categoria.
O vínculo empregatício mais estabelecido é o da CLT, com Pessoas Jurídicas (PJs) em segundo lugar. Outros tipos de vínculos também foram indicados.
A renda mensal de muitos jornalistas fica entre R$ 3 mil e R$ 4 mil, próximo do piso atual de um repórter (R$ 3.810,69). Recebimentos até R$ 5 mil figuram em segundo lugar e R$ 6 mil em terceiro. Há quem tenha informado receber além disso, até R$ 15 mil, sob justificativa de anos acumulados de trabalho, mais de um emprego ou por ter outras relações de trabalho com empresários da comunicação.
Praticamente 90% dos jornalistas consideram que o salário é insuficiente para atender as necessidades dos trabalhadores da comunicação.
Em relação ao que os jornalistas veem como prioridade, Plano de Saúde é líder em pedidos, seguido de Plano de Cargos e Salários e, ainda, Vale Alimentação. Esses e outros direitos seguem sendo defendidos pelos Sindicatos, mas não constam em CCT por não serem aceitos pelos patrões – e o trabalho continua para que essa realidade mude. As marcações das respostas neste quesito foram de livre escolha dos participantes, que puderam assinalar uma, duas ou todas as indicações:
Entre os benefícios que algumas empresas oferecem, mas que não estão previstos em CCT, o que você considera como prioridade? [Alguns desses direitos já foram defendidos pelos Sindicatos ao longo dos anos]
- 123 pessoas – Plano de saúde;
- 119 pessoas – Plano de cargos e salários;
- 118 pessoas – Vale alimentação;
- 81 pessoas – Participação nos lucros e resultados;
- 77 pessoas – Ajuda de custo para trabalho remoto (home office);
- 63 pessoas – Adicional por qualificação (especialização, mestrado, doutorado e proficiência em língua estrangeira);
- 62 pessoas – Auxílio-creche a todos;
- 61 pessoas – Programa de qualificação e incentivo aos estudos;
- 53 pessoas – Pagamento de adicional de risco no exercício da profissão;
- 53 pessoas – Plano odontológico;
- 43 pessoas – Pagamento de direitos autorais quando o conteúdo produzido pelo jornalista é cedido pela empresa para ser usado por outros;
- 6 pessoas fizeram outras sugestões como a não obrigatoriedade de contratos de trabalho (a menos que haja pagamento de adicional), igualdade de carga horária, adicional por produtividade, diárias de viagens/alimentações dignas e plano de saúde condizente com o piso.
Agora sobre práticas observadas em ambientes de trabalho com jornalistas, a maior parte dos participantes da pesquisa diz que há Sobrecarga de trabalho, seguido de Assédio moral e Demissões de profissionais com maiores salários para contratação de novos jornalistas, com salários inferiores. Todas essas situações impactam a saúde física e mental dos trabalhadores, mostrando ser urgente um debate mais aprofundado sobre o assunto com os patrões. As marcações das respostas neste quesito também foram de livre escolha dos participantes:
Você já observou alguma dessas práticas em ambientes de trabalho com jornalistas?
- 112 pessoas – Sobrecarga de trabalho;
- 90 pessoas – Assédio moral;
- 85 pessoas- Demissões de profissionais com maiores salários para contratar novos jornalistas, com salários inferiores;
- 84 pessoas – Pressão por quantidade de trabalho, em detrimento da qualidade;
- 77 pessoas- Não pagamento de horas extras;
- 70 pessoas – Descumprimento, por parte das empresas, do acordo coletivo (contratação irregular, profissionais sem registro, sem carteira assinada, desrespeito ao piso e não registro de horas ou extras);
- 60 pessoas – Uso de estagiários em vaga que deveria ser preenchida por profissional contratado;
- 47 pessoas – Ausência do sindicato nas decisões de interesse direto dos jornalistas dentro das empresas;
- 33 pessoas – Pressão para assinatura de acordos individuais em detrimento de acordo coletivos;
- 23 pessoas – Assédio sexual;
- 9 pessoas fizeram outras observações, dizendo que há quem trabalhe em cargos iguais com salários diferentes, acumule funções sem receber e não pagamento de horas adequado;
- 3 pessoas – Observaram todas as práticas listadas;
- 2 pessoas – Não observaram nenhuma das práticas listadas.
Os Sindicatos quiseram saber se as empresas demitiram jornalistas nos últimos 12 meses.
Se os profissionais tiveram redução de salário e jornada ou precisaram ir ao trabalho remoto (home office).
Você precisou ir ao trabalho remoto (home office) nos últimos 12 meses?
- 49 pessoas – SIM, e sem reembolso com despesas de internet e energia elétrica;
- 46 pessoas – NÃO;
- 23 pessoas – NÃO, mas já trabalharam remotamente em outro período;
- 19 pessoas – SIM e que se mantém em trabalho remoto sem reembolso de despesas com internet e energia elétrica;
- 15 pessoas – MODELO HÍBRIDO (parcialmente presencial e remoto), sem reembolso de despesas de internet e energia elétrica;
- 6 pessoas – SIM, com reembolso de despesas de internet e energia elétrica;
- 1 pessoa – MODELO HÍBRIDO (parcialmente presencial e remoto), com reembolso de despesas de internet e energia elétrica.
E se há a presença de estagiários em ambientes de trabalho com jornalistas com ou sem supervisão.
Dois outros campos do Formulário estiveram abertos para comentários livres dos jornalistas. Um deles informou a perda de 5,3% de reajuste nos salários dos profissionais nos últimos dois anos (2020/21) e pediu por sugestões de como lutar por essa reposição. Já o outro pôde ser utilizado para demais comentários da Campanha Salarial deste ano. Essas informações estão sendo examinadas internamente pelas diretorias dos dois Sindicatos.
Participaram da pesquisa jornalistas de 17 cidades paranaenses. Houve, ainda, uma contribuição de fora – Maceió (Alagoas) – que foi registrada.
As diretorias do Sindijor Norte PR e SindijorPR vão se reunir, cada uma com sua base, nesta e na próxima semana. Depois disso, uma reunião conjunta entre os dois Sindicatos vai ser realizada para debater o texto que será remetido aos patrões com indicações para a CCT.
Agradecemos imensamente os jornalistas que participaram desta primeira etapa da Campanha Salarial.