A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) apresentou na terça-feira, 9 de abril, na sede da Fundacentro, em São Paulo, a Pesquisa Nacional sobre Condições de Saúde Mental dos/das Jornalistas, projeto desenvolvido pela entidade, com o apoio do Ministério Público do Trabalho (MPT).
A mesa de abertura foi composta por Pedro Tourinho, presidente da Fundacentro, Paulo Zocchi, vice-presidente da FENAJ, e Juliana Mombelli, procuradora do MPT e membra da Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho (Codemat).
Paulo Zocchi destacou, em sua fala inicial, que toda a classe trabalhadora brasileira está em situação de pressão a partir da reforma trabalhista, da desregulamentação e da precarização. “Se você recortar os jornalistas, (percebe que) é uma categoria que está sob forte impacto das mudanças tecnológicas das mais variadas […] Ao contrário do avanço tecnológico ajudar a organizar o trabalho, a melhorar as condições de trabalho, coisa que ele poderia fazer, ele é utilizado para ampliar a exploração do trabalho”. Zocchi concluiu dizendo que é urgente avançar na regulamentação das plataformas digitais e na defesa dos direitos trabalhistas dos jornalistas, visando garantir condições dignas de trabalho e preservação da saúde mental da categoria.
A procuradora do MPT, Juliana Mombelli, comentou que o agravo a saúde física e mental dos trabalhadores não deve ser algo inerente a atividade profissional, e por isso não pode ser normalizado. “O acidente do trabalho é algo visível, é algo agudo, é uma coisa concreta e palpável, que pode ser evidenciada. O adoecimento não. É estigmatizado, inviabilizado”.
Saúde mental e condições de trabalho no Brasil
O termo saúde mental compreende um conjunto de fatores que contribuem para o bem-estar geral do ser humano e seu equilíbrio físico e emocional. A ausência ou limitação dessas condições tende a causar sofrimento mental, que acarreta consequências, tanto no desempenho profissional como nos diversos aspectos da vida social e privada, com reflexos psicossociais.
O evento foi seguido por um debate que contou com a participação de José Roberto Heloani, professor titular da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, na área de Gestão, Saúde e Subjetividade; Cristiane Reimberg, jornalista da Fundacentro, com pesquisas sobre saúde mental e trabalho do jornalista; Cynthia Lopes, procuradora do MPT e membra da Codemat; e Norian Segatto, secretário de Saúde e Segurança da FENAJ.
O problema do esgotamento psicológico dos jornalistas não é recente. A pesquisa realizada por Cristiane Reimberg, em 2014, já destacava que as jornadas exaustivas e a pejotização eram problemas que afligiam a saúde mental dos profissionais, apontada sobretudo por profissionais idosos. Doenças como síndrome do pânico, dor emocional, cansaço, ansiedade, insônia, e dores das mais variadas possíveis como dor de cabeça, pescoço, coluna, ronquidão, foram algumas das mais relatadas no trabalho.
Norian Segatto destacou em sua fala o Relatório de Violência contra Jornalistas, que é elaborado pela entidade desde 1999. “Em 2020, foram 428 ataques, mais do que dobrou, 105% a mais do que em 2019. E em 2021 foi ainda pior, 430 ataques registrados contra jornalistas, ou seja, mais de um ataque por dia. Um ataque e meio por dia, uma grande parte deles promovida pelo então presidente Jair Bolsonaro, que originou o processo o SJSP ganhou contra ele”.
Este quadro também foi agravado pela pandemia de Covid-19 que assolou o país. Jornalistas, apesar de não serem qualificados como profissionais em risco, estavam na linha de frente, cobrindo o que acontecia pelo país, sendo declarados profissionais de serviço essencial no período. “Precisamos entender o que está acontecendo, precisamos entender para onde vai a saúde mental dessa categoria, dessa profissão, para ajudar a proteger esses trabalhadores e ao mesmo tempo”, completou Norian.
A proposta é identificar, por meio de pesquisa quantitativa e qualitativa, os impactos da pandemia de Covid-19 e dos novos arranjos laborais, aprofundados a partir da reforma trabalhista de 2017. De 2019 a 2022 ataques diretos à categoria foram feitos pelo governo Bolsonaro, em especial às mulheres e aos que trabalham para grandes empresas de comunicação, jornais, TV e portais. A ações que trouxeram consequências à saúde mental das e dos jornalistas no país.
Marcelo Kimati, assessor da presidência da Fundacentro, comentou que a ideia da pesquisa surgiu após a pandemia proporcionar um espaço para o debate sobre saúde mental. Além de tendência da psiquiatria contemporânea, estudos como esse buscam apontar o sofrimento mental como uma doença.
“Esse estudo vai nos dar condição, por um lado de entender, de como se dá essa relação, quais são essas variáveis de sofrimento mental e ao mesmo tempo ele vai nos indicar alguns caminhos para que essas relações, por exemplo, entre precarização de trabalho e sofrimento mental, possam ser mais aprofundadas em uma continuação desse estudo, que pretende ter um caráter mais qualitativo”, comentou Marcelo.
Com esse projeto, a FENAJ e seus 31 Sindicatos filiados, entre eles o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná (Sindijor Norte PR), em conjunto com a Fundacentro, querem identificar impactos, o que deverá contribuir para auxiliar pesquisas paralelas que já ocorrem no campo da saúde mental e do trabalho. Os resultados ajudarão a formular políticas sindicais e negociação com as entidades patronais, visando à melhoria das condições gerais e subjetivas do trabalho. Pretende-se incentivar a criação de novas leis que protejam o trabalho do assédio e da pressão, com consequente manifestação da melhora da saúde mental coletiva.
Para assistir ao evento na integra, clique aqui.
Texto: Juliana Almeida – SJSP, com modificações do Sindijor Norte PR