Doação de botijões de gás. Foto: Wellington Lenon

As doações foram entregues em seis comunidades de Curitiba, Araucária e Campo Magro.

A pandemia da Covid-19 avança no Paraná, e junto com ela o número de pessoas que enfrentam dificuldades econômicas e falta de comida na mesa. Para se somar às ações imediatas de combate à fome que se espalham pelo Brasil, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro-PR/SC) se uniram para doar alimentos e gás a famílias em situação de vulnerabilidade de Curitiba e Região Metropolitana, neste sábado (1).

Arroz, feijão, mandioca, batata doce, frutas, legumes, verduras e pães somaram 28 toneladas de alimentos doados por famílias da Reforma Agrária e da Agricultura Familiar de 7 municípios. Já as 400 cargas de gás doadas foram adquiridas por meio de uma campanha que envolveu petroleiros do Paraná e de Santa Catarina.

Em Curitiba as doações chegaram às famílias do Jardim Santos Andrade, no Campo Comprido; Vila Sabará, na Cidade Industrial de Curitiba; e Vila Formosa, no Novo Mundo. No município de Araucária, as comunidades beneficiadas foram as Vilas Santa Cruz e Portelinha. Já em Campo Magro o gás e os alimentos chegaram aos moradores do acampamento Nova Esperança, localizado no centro do município.

“A nossa comunidade é carente, precisa bastante de ajuda. E hoje a gente fica imensamente feliz, a gente fica até sem palavras pra agradecer”, disse emocionada Rosenilda de Paula, conhecida como Nenê da Santos Andrade, 47 anos, presidenta da associação de moradores do Jardim Santos Andrade, no bairro Campo Comprido. Lá foram distribuídas 400 cestas e 200 cargas de gás de cozinha.

Ivan Carlos Pinheiro é morador da Ferrovila e faz parte da União de Moradores e Trabalhadores do Bolsão Formosa, no Novo Mundo. Cinco associações da região receberam alimentos e gás para iniciar um projeto de cozinhas comunitárias para a preparação de marmitas a serem doadas à população mais necessitada das comunidades. O líder comunitário relata as dificuldades enfrentadas pelas famílias na região, especialmente trabalhadores informais.

“A gente percebe que os depósitos de recicláveis abaixaram o preço e, com isso, as pessoas [recicladores] não estão conseguindo fazer um dinheiro muito bom. Esses alimentos chegam na melhor hora para ajudar na alimentação dos filhos, da família. É muito importante quando a gente vê as pessoas receberem. Tem gente que chega até nós e fala que não sabia mais o que ia fazer para colocar alguma coisa na panela para os filhos se alimentarem, os adultos mesmo… E as pessoas chegam a chorar de desespero e dizem que a melhor coisa que aconteceu foi a gente levar o alimento para elas”, relatou Pinheiro.

Dom Peruzzo, Arcebispo de Curitiba, durante a doação. Foto: Joka Madruga

Alexandro Guilherme Jorge, presidente do Sindipetro, resume o dia como uma ação de trabalhador para trabalhador. Além de levar itens essenciais a quem mais precisa, ele explica que o objetivo é cobrar ação do Poder Público para o combate à fome. “É uma forma da gente se ajudar neste momento difícil que estamos passando. Ao mesmo tempo é uma forma de protesto por termos grande produção de gás e alimentos no Brasil e, mesmo assim, muita gente não ter acesso, devido aos altos custos”.

Esta é a segunda vez que o MST e o Sindipetro-PR/SC se juntam para garantir estes dois itens que são essenciais para a alimentação em casa – a primeira ocorreu no dia 13 de junho. “Estamos fazendo uma aliança entre os trabalhadores do campo e os da cidade”, explica Joabe Mendes, integrante da direção estadual do MST do Paraná. “A solidariedade não pode permanecer só em tempo de pandemia. Ela tem de ser uma prática permanente e aliada na resistência contra o vírus e as injustiças, e por vida digna para todos e todas”, concluiu.

O Arcebispo Metropolitano de Curitiba, Dom José Antônio Peruzzo, fez a benção dos alimentos na tarde desta sexta-feira (31), no local onde as cestas foram montadas, em Curitiba. “Enquanto houver gestos assim, apesar de tantos problemas no mundo, na sociedade e na história, há maravilhas que sustentam bons motivos para termos esperança”, disse o representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Campanha permanente das famílias da Reforma Agrária

Descarregamento de caminhão com as doações. Foto: Giorgia Prates

O MST está em campanha de doação de alimento produzidos em assentamentos e acampamentos desde o início da pandemia, em todo o Brasil. Até agora, mais de 2.500 toneladas de alimentos já foram partilhados.

Com a ação deste sábado, as famílias Sem Terra do Paraná chegaram a 390 toneladas de alimentos distribuídos a quem mais precisa. Além da doação dos alimentos in natura, cerca de 9.500 marmitas foram produzidas e distribuídas pelo Movimento em parceria com outras organizações em Curitiba, e aproximadamente 600 máscaras de tecido, produzidas e doadas por mulheres do MST, também foram entregues até o momento.

Para a ação deste sábado, a milhares de famílias agricultoras envolvidas na ação superaram as expectativas iniciais de arrecadação, que eram de 15 toneladas. Os 1.100 pães foram produzido por mulheres do acampamento Maila Sabrina, de Ortigueira. A diversidade de alimentos veio de sete municípios, de centenas de famílias da reforma agrária e da agricultura familiar: assentamento Contestado e agricultores sócios da cooperativa Terra Livre, criada pelo assentamento, e famílias sócias do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da (STR) da Lapa; assentamentos São Joaquim, Rio da Areia e Carvorite, de Teixeira Soares; assentamento Dom José Gomes e Avencal, de Fernandes Pinheiro; e assentamento Mário Lago, de Irati; acampamento Maila Sabrina, do município de Ortigueira; o acampamento José Lutzenberger, de Antonina; e de produtores da agricultura familiar da Colônia Marcelino, de São José dos Pinhais.

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