Neste sábado (10), no quarto dia de greve da redação de O Diário, de Maringá, o arcebispo da cidade, Dom Anuar Battisti, publicou um artigo de opinião no jornal sobre a situação dos trabalhadores. Battisti fala sobre o encontro que teve com os profissionais, e da angústia dos jornalistas, que além de ter os salários em atraso desde 2016, também tiveram benefícios cortados. “Após ouvir um pai de família que teve o plano de saúde cortado e estava com o filho no hospital, fiquei comovido”, conta o arcebispo.

Dom Anuar Battisti diz rogar a Deus para que “as condições econômicas deste grande jornal melhorem imediatamente” e que acredita que “um bom caminho de conciliação entre a empresa e os trabalhadores será encontrado entre as partes”. Infelizmente, os diretores do O Diário não vem mostrando ter vontade em resolver a questão. Prova disso é que o próprio arcebispo não conseguiu conversar com um dos principais responsáveis pelo jornal na última semana.

Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná também vem recebendo relatos de freelancers que estão sendo “chamados” para trabalhar na redação, ocupando o lugar de grevistas. Em um deles, um profissional relatou ter recebido proposta para executar a função, com promessa de recebimento no fechamento de cada dia. E aí fica aquela pergunta, se O Diário não paga há meses os salários dos jornalistas titulares, que dão cara às publicações que os leitores admiraram por ANOS, como os diretores tem dinheiro para arcar com o pagamento de freelancers?

É uma verdadeira incógnita, e uma lástima para toda a sociedade.

Confira o artigo de Dom Anuar Battisti na íntegra:

Igreja: “hospital de campo”

DOM ANUAR BATTISTI – Arcebispo de Maringá

A Igreja celebra hoje o Dia do Doente, dos enfermos. Na data em que recordamos Nossa Senhora de
Lourdes, rezamos por todos que estão internados, pelos cuidadores, pelas famílias angustiadas. Se não olharmos para a doença como uma oportunidade de santificação, podemos, muitas vezes, entrar num estado de angústia ainda maior.

Por ocasião deste dia, em sua mensagem anual o Papa Francisco recordou o bonito trabalho que a Igreja Católica realiza em todo o mundo. “Esta vocação materna da Igreja para com as pessoas necessitadas e os doentes
concretizou-se, ao longo da sua história bimilenária, numa série riquíssima de iniciativas a favor dos enfermos. Esta história de dedicação não deve ser esquecida. Continua ainda hoje, em todo o mundo.

Nos países onde existem sistemas de saúde pública suficientes, o trabalho das congregações católicas, das dioceses e dos seus hospitais, além de fornecer cuidados médicos de qualidade, procura colocar a pessoa humana no centro do processo terapêutico e desenvolve a pesquisa científica no respeito da vida e dos valores morais e cristãos. Nos países onde os sistemas de saúde são insuficientes ou inexistentes, a Igreja esforça-se por oferecer às pessoas o máximo possível de cuidados da saúde, por eliminar a mortalidade infantil e debelar algumas pandemias.

Em todo o lado, ela procura cuidar, mesmo quando não é capaz de curar. A imagem da Igreja como ‘hospital de campo’, acolhedora de todos os que são feridos pela vida, é uma realidade muito concreta, porque, [em] algumas partes do mundo, os hospitais dos missionários e das dioceses são os únicos que fornecem os cuidados necessários à população.

Jesus deixou, como dom à Igreja, o seu poder de curar: ‘Estes sinais acompanharão aqueles que acreditarem: (…) hão de impor as mãos aos doentes e eles ficarão curados’ (Mc 16, 17.18). Nos Atos dos Apóstolos, lemos a descrição das curas realizadas por Pedro (cf. At 3, 4-8) e por Paulo (cf. At 14, 8-11). Ao dom de Jesus corresponde o dever da Igreja, bem ciente de que deve pousar, sobre os doentes, o mesmo olhar rico de ternura e compaixão do seu Senhor.

A pastoral da saúde permanece e sempre permanecerá um dever necessário e essencial, que se há de viver com um ímpeto renovado começando pelas comunidades paroquiais até aos centros de tratamento de excelência. Não podemos esquecer aqui a ternura e a perseverança com que muitas famílias acompanham os seus filhos, pais e parentes, doentes crônicos ou gravemente incapacitados.

Os cuidados prestados em família são um testemunho extraordinário de amor pela pessoa humana e devem ser apoiados com o reconhecimento devido e políticas adequadas. Portanto, médicos e enfermeiros, sacerdotes, consagrados e voluntários, familiares e todos aqueles que se empenham no cuidado dos doentes, participam
nesta missão eclesial. É uma responsabilidade compartilhada, que enriquece o valor do serviço diário de cada um.”

O Papa Francisco nos ensina muito com suas palavras. A Igreja precisa ser este “hospital de campo”. Precisamos sempre estar abertos a ouvir os angustiados, aqueles que mais precisam da nossa atenção.

Na semana que se passou, recebi um grupo de jornalistas deste O Diário, jornal que tem uma ligação muito bonita e histórica com a nossa cidade e também com a Igreja. Os jornalistas relataram a angústia pelo atraso salarial, desde 2016. Após ouvir um pai de família que teve o plano de saúde cortado e estava com o filho no hospital, fiquei comovido.

Reconheço o trabalho primordial que o jornalismo presta para a nossa sociedade. Rogo a Deus para que as condições econômicas deste grande jornal melhorem imediatamente. Tenho certeza que um bom caminho de conciliação entre a empresa e os trabalhadores será encontrado entre as partes.

Neste Dia dos Enfermos coloco em minhas orações todos os que sofrem também pela falta do pão de cada dia. Muitos sem trabalho, sem emprego, sem condições de sustentar suas famílias. Vamos olhar ao nosso redor e ouvir o clamor do nosso irmão. E como diz o Papa Francisco: Rezem por mim. Que Deus vos abençoe.

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