Não custa lembrar – ou informar para quem não sabe, talvez a maioria – que este Dia Internacional da Mulher tem raízes operárias e sindicais. Raízes sufocadas hoje por flores, descontos em lojas de perfumaria e “homenagens” (com direito a muitas aspas).

São várias as versões para a origem da data, mas todas associadas à luta de trabalhadoras. Um dos eventos mais citados é um incêndio numa fábrica têxtil nos EUA em 1857, em que centenas de operárias teriam morrido queimadas por policiais enquanto reivindicavam a redução da jornada de trabalho (que chegava a 16 horas). Outra versão é de que o incêndio que motivou a homenagem histórica ocorreu, na verdade, em 25 de março de 1911, num “incidente” que escancarou as péssimas condições de trabalho e vitimou justamente operárias que vinham lutando por direitos – inclusive por meio de greves.

A história do 8 de março também é ligada à luta das mulheres socialistas na Dinamarca no início do século 20 e a uma grande passeata feita por mães, mulheres de soldados e operárias em São Petersburgo em 8 de março de 1917 – há quem diga que foi esse movimento que precipitou a Revolução Russa.

Em 1975, a ONU instituiu oficialmente o 8 de março como Dia Internacional da Mulher, uma data para lembrar a luta por direitos. Não há como negar que desde então houve grandes avanços, mas é também revoltante constatar que as mulheres ainda precisam reivindicar o óbvio: igualdade de direitos com os homens (mesmo salário por mesma função), espaço no mercado de trabalho (do chão de fábrica aos cargos de chefia), tratamento especial para situações especiais (realocação de função durante a gestação, extensão da licença maternidade, espaço digno para amamentar, auxílio-creche), e até mesmo… o simples e universal respeito.
No jornalismo, não é diferente. Com frequência, mulheres jornalistas têm sido vítimas de assédio moral e sexual tanto de seus pares e chefes, quanto de entrevistados. Além disso, na ausência de planos de cargos e salários na imensa maioria das empresas de comunicação, mulheres não raramente são relegadas na fila de promoções e aumentos. Outro tipo de discriminação comum nas redações: pautas “sérias” são reservadas a homens, enquanto mulheres são designadas para as chamadas “matérias leves”.

Não é à toa que, numa ação exemplar, a maioria das mulheres jornalistas que integram as redações do periódico El País na Espanha, no Brasil e no México aderiram a uma paralisação feminista de 24 horas neste 8 de março, como parte de uma mobilização contra violências machistas, desigualdades trabalhistas e opressão por motivos de gênero.

Nesse cenário em que nem tudo (às vezes, quase nada) são flores, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná recomenda: troque um botão de rosa por um emprego digno, uma remuneração decente, um apoio para a mãe trabalhadora, um gesto de respeito. Ou dê tudo isso, mais as flores. Elas merecem.

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