A demissão da jornalista da RICtv em Londrina, Carol Romanini, continua a repercutir em portais de notícias, desta vez com a própria profissional falando sobre o caso. Em um primeiro momento, e em vista de todos os acontecimentos, Carol procurou se preservar antes de se pronunciar publicamente sobre o caso. Mas esse silêncio foi quebrado, principalmente depois da jornalista e sua família começarem a receber ameaças.
Saiu por aí:
- Rede Lume de Jornalistas: Jornalista é demitida por usar vermelho em programa de TV
- Splash (Uol): Venenosa de afiliada da Record relata demissão ao usar vermelho; TV nega
- Jornalistas Livres: Jornalista é demitida a pedido de deputado bolsonarista
- NaTelinha (Uol): Jornalista demitida da Record após usar vermelho diz que filha sofre ameaças de morte
- CUT Paraná: Deputado bolsonarista pede e dono de TV entrega cabeça de jornalista no Paraná
- Portal Verdade: Jornalista sofre ataques misóginos e censura em Londrina; violência contra categoria cresce em todo país
A intimidação contra Carol Romanini teve início nas redes sociais após um incidente envolvendo a torcida Falange Azul, do Londrina Esporte Clube, no dia 10 de setembro. A jornalista estava próxima à confusão, fora do horário de trabalho, e o deputado federal Felipe Barros (PL) usou isso para atacar a profissional de maneira covarde. Barros, que se intitula o número 01 de Bolsonaro no Paraná, inflou sua base contra a Carol. O número de telefone pessoal da jornalista foi exposto pelo próprio deputado, que seguiu buscando formas de prejudicá-la.
O Sindicato de Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná (Sindijor Norte PR) começou a abordar o caso inicialmente sem ter ciência de toda confusão entre a torcida e o deputado bolsonarista Barros. Ainda na ocasião, o Sindicato foi procurado por jornalistas da emissora revoltados com a proibição do uso das cores vermelho e bordô por repórteres e apresentadores, claramente com motivação eleitoral, um dia antes da demissão de Carol. Divulgou nota de repúdio sobre o caso em 13 de setembro, um dia depois que a seguinte mensagem foi compartilhada em um grupo de styling ligado ao Grupo RIC (WhatsApp – 12/09, às 19h05) com jornalistas:
“RECADO URGENTE * PELA DIREÇÃO DA EMISSORA:
A partir de hoje NÃO PODEMOS MAIS USAR VERMELHO E NEM BORDÔ NO AR. Até nova decisão seguimos com esse comunicado ok?
Dúvidas me avisem! Demais cores Ok.”
Com toda a repercussão negativa, a RICtv, que é afiliada da Record TV no Paraná, passou a distribuir mensagens internas aos seus funcionários também pedindo que os trabalhadores não utilizassem outras cores, como verde e amarelo. Alguns jornalistas, inclusive, chegaram a fazer com que essa mensagem chegasse não só ao Sindijor Norte PR, como também ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR), citando um comunicado interno que teria circulado por e-mail. As entidades que representam jornalistas profissionais do Paraná não tiveram acesso a este segundo conteúdo.
No mesmo dia em que a nota de repúdio sobre a proibição das cores foi publicada, a RICtv determinou a suspensão da versão de Londrina do quadro “Hora da Venenosa” no “Balanço Geral“. Carol Romanini, que era apresentadora deste, foi surpreendida com a decisão quando já estava na emissora para realizar sua participação. Estava ela em frente às câmeras, inclusive, quando o sinal de transmissão foi cortado abruptamente para Curitiba. O apresentador da capital, então, disse que estaria com a região de Londrina pelos “próximos 3 meses”. Foi aí que Carol entendeu que tinha sido demitida. A notícia só foi comunicada formalmente à jornalista em uma reunião que aconteceu no período da tarde, também no dia 13 de setembro.
De acordo com as informações apuradas pelo Sindijor Norte PR, apoiadores e o próprio deputado federal Felipe Barros atuaram com pressões para que a RICtv demitisse a jornalista. Fizeram associações fantasiosas entre a cor da roupa (vermelha) que Carol Romanini usou no quadro “Hora da Venenosa” um dia antes de sua demissão, 12 de setembro, com “comunismo” e outras mensagens político-partidárias. O quadro, que fez parte do “Balanço Geral“, era apresentado durante a tarde em Londrina e foi somente no período noturno que a recomendação sobre não usar “vermelho e bordô” surgiu – esteve focada nessas cores, inicialmente.
Agora, a RICtv tenta justificar na imprensa a demissão da jornalista Carol Romanini alegando baixa audiência do programa. A afiliada da Record TV é controlada pelo Grupo RIC de Leonardo Petrelli Neto.
O Sindijor Norte PR, o SindijorPR e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) não têm dúvidas de que houve assédio eleitoral no caso. O deputado bolsonarista Felipe Barros mostrou que tem influência direta sobre a linha editorial no Grupo RIC e isso levou à demissão da jornalista. As entidades reforçam o apoio à profissional, mantêm seu repúdio à atitude da RICtv de Petrelli Neto e seguem monitorando com preocupação as ameaças que vêm sendo endereçadas à jornalista e à sua família.
Foto: Carol Romanini no estúdio da RICtv em Londrina; profissional apresentava o quadro “Hora de Venenosa” no “Balanço Geral”