O Néias – Observatório de Feminicídios de Londrina comemorou dois anos de atividade neste mês de abril. Desde sua criação, em 2021, Néias tem total apoio do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná (Sindijor Norte PR). Prestes a se formalizar, a associação terá como sede um espaço cedido pelo sindicato e conta, desde a sua fundação, com a participação de Cecília França, diretora de Saúde e Condições de Trabalho do Sindijor Norte PR.
Nascida para dar e ecoar vozes de mulheres vitimadas pela forma mais brutal da violência de gênero, o feminicídio, Néias tem focado seus esforços no acompanhamento e divulgação dos julgamentos de feminicídios tentados e consumados na Comarca de Londrina ao longo desse período.
“Já acompanhamos quase 30 júris, nos quais nos comovemos, nos revoltamos, nos solidarizamos com mulheres e famílias enlutadas. Buscamos visibilizar para a sociedade as consequências dos feminicídios e cobramos da administração pública e do sistema judicial medidas eficazes de prevenção, punição, reparação de danos e restituição de direitos. Ainda há muito a fazer, mas já conquistamos bastante”, destacam Néias.
A sede do Sindijor Norte PR já tem sido utilizada pelo Néias para reuniões do Observatório de Feminicídios de Londrina.
Para marcar os dois anos, a associação promoveu um bate-papo aberto para a comunidade no Sesc Cadeião, no dia 26 de abril, sobre os impactos do trabalho para a sociedade.
“Néias vem construindo algo muito relevante para a história de Londrina. Porém, o que mais me impulsiona, é o quão relevantes podemos ser na vida das mulheres. Das mais diversas mulheres. Queria me dedicar mais, mas faço dentro das minhas limitações de mãe de dois, profissional e militante”, diz Cecília França, do Néias e diretora do Sindijor Norte PR.
Confira como foi a conversa com Néias na Rede Lume de Jornalistas, que também conta com o apoio do Sindijor Norte PR.
Feminicídios ocorrem quando mulher opta pelo fim do relacionamento
A maior parte dos feminicídios julgados entre 2021 e 2022 em Londrina, período de atividade de Néias, ocorreu quando a mulher rompeu ou tentava romper o relacionamento com o agressor. Foram 60,3% dos casos. Esses dados foram sistematizados pelo Laboratório de Estudos de Feminicídio (Lesfem) da Universidade Estadual de Londrina (UEL), com apoio de Néias.
Conforme motivações constantes nos processos, em 18 dos 23 julgamentos ocorridos nestes dois anos em Londrina as motivações apontadas para o crime foram o desejo da mulher de terminar o relacionamento ou ciúmes por parte do agressor, marcas profundas do patriarcado na nossa sociedade.
Em 12 dos 23 casos acompanhados pela associação o crime foi cometido em ambiente residencial, uma das características típicas dos feminicídios. Também em 12 casos a arma utilizada foi a faca, ou instrumento semelhante, em consonância com os dados nacionais.
Imagem/destaque: Integrantes de Néias em ato realizado em frente ao Fórum de Londrina em abril de 2023