A classe média brasileira é, historicamente, nova. Surgiu no início da industrialização do Brasil agrário. Agrário e patrimonialista. Ganhou contornos de classe social nas décadas de 50 e 60 do século passado, a reboque de uma burguesia industrial e comercial.

E nasceu com herança patrimonialista. Sem consciência de classe. Imediatista e individualista. “João Antonio (nosso maior contista), no final da década de 60, a chamava de ‘‘classe mérdea”. E foi essa classe “mérdea” que se agarrou a vassourinhas para eleger Jânio Quadros. Deu no que deu.

Não satisfeita, a classe média descerebrada juntou fileiras com a reação para impedir a posse de Jango. Cerrou fileiras e bateu panelas, com senhoras da ‘‘sociedade católica” à frente, para apoiar o golpe militar que instaurou a Ditadura de 64.

Com os milicos no poder, a classe descerebrada virou classe mídia. A apoiar, sem o mínimo senso crítico, tudo que a Vênus Platinada despejava na cabeça dos brasileiros. Criou-se aí uma classe média idiotizada e repetidora dos refrãos nacionalistas.

Essa mesma classe apoiou, incondicionalmente, os golpes econômicos que se seguiram. Na Ditadura a apoiar o crescimento do bolo de Delfim Neto, para depois distribuí-lo. O bolo ficou só para a elite. Até os golpes econômicos do período de redemocratização. No Plano Cruzado virou fiscal de Sarney.

Apoiou, sem restrições, o confisco da poupança por Collor de Mello. Patrimonialista descerebrada que é, vibrou com as privatizações de FHC. Não se importou que o tucano usasse dinheiro do povo (BNDES) para privatizar empresas públicas. E as transnacionais agradeceram essa burrice.

De repente resolveu mudar. E votou em Lula no início deste século. Isso depois de Lula, em carta ao país, negar três vezes, como Pedro, as reformas estruturais de base: agrária, urbana e fiscal. Mas o encanto durou pouco. Bastou Lula fazer movimentos mínimos (pífia distribuição de renda, acesso a negros e pobres ao ensino superior…) para que a classe descerebrada se desesperasse. É que as empregadas domésticas, os serviçais, começaram a frequentar os mesmos espaços sociais (restaurantes, universidades e até aeroportos) que a classe descerebrada.

O que era encanto virou ódio. Ódio de classe. Logo ela, a classe descerebrada, a sentir ódio de classe. Mesmo sem saber direito o que é classe social. Maioria quantitativa, a classe média não teve dúvidas. Apoiou o fascismo contra o desenvolvimento.

É essa classe social (mesmo que alguns arrependidos confirmem a exceção na regra) que sustenta o fascismo no poder. Descerebrada que é, apoia até mesmo a falta de vacina para combater a pandemia de Covid-19. E nem percebem que são as vítimas, também, da política genocida do fascista eleito por ela.

É que no seu eterno egoísmo, a classe média brasileira ainda acredita que a covid-19 só vai eliminar os pobres. Pobres, aliás, pelos quais nutre ódio mortal. Para se prevenir contra a Covid-19 usa o conselho do “sábio” eleito por ela, classe média, e utiliza cloroquina e ivermectina.

Imagem: Mohamed Hassan via Pixabay


Por José Maschio

Jornalista e diretor do Sindijor Norte PR. José já foi editor do Jornal de Londrina, professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e correspondente da Folha de São Paulo.

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