Imagem/destaque: Manifestação do Sindijor Norte PR e jornalistas na frente da TV Tarobá em Londrina, via Facebook (5 de dezembro de 2018)*

Por Edson Vitoretti, jornalista em Londrina, em uma contribuição por e-mail

A classe dos jornalistas é uma das mais desunidas. A começar pelo fato da baixa adesão ao sindicato. Não se filiam, não participam do movimento sindical, fazem vistas grossas, inventam compromissos para não participarem de reuniões, ainda que virtuais.

Afora esse aspecto estrutural do não envolvimento formal com o sindicato, há outros que mantêm a classe desunida.

Jornalistas não gostam de assumir, mas são intrinsecamente competitivos. Uma competição que beira à selvageria, mas que não se revela claramente, mantendo-se calculadamente na penumbra, nas sutilezas. A inveja, o desejo de ocupar o lugar do coleguinha, a desconfiança nas relações tendo como gênese apenas o medo de perder o cargo para o outro, corrói na essência qualquer possibilidade de união da classe.

Essa corrosão é subliminar e convenientemente camuflada, escondida. Nas aparências, a maioria se diz defensor da classe. No “Dia dos Jornalistas”, muitos fazem aquela hipocrisia nas redes sociais, lambendo-se uns aos outros (claro, enquanto os uns estão bem longe dos outros, afastados pela barreira dos pixels). Muitos dos “defensores dos direitos alheios, dos fracos e oprimidos da sociedade, da solidariedade, da justiça” – como dá a entender em reportagens sentimentais que produzem na TV – não querem ser vistos como agentes do sistema econômico político e social que produz a competição feroz, toda forma de opressão, de injustiça, a todos, não só entre trabalhadores. Não querem, não porque tenham algo contra esse sistema, mas porque não pega bem para a imagem, para as relações públicas, para o currículo social (podem não serem convidados para aquele churras do fim de semana só por isso. Que injustiça!).

Então, pertencer a um sindicato de jornalistas para quê?

Para ter mais uma tarefa além das que você tem em sua jornada habitual de trabalho e se estressar ainda mais que o normal da profissão já te impõe?

Para, quando o bicho pegar nas brigas com as empresas, nas lutas por reposição salarial, dignidade do trabalho, contra o assédio, por respeito à jornada etc. etc., você ter que se matar para defender o emprego daquele coleguinha que passou a vida falando mal de sindicato, competindo feroz e deslealmente com os colegas por postos de trabalho; coleguinha que passou a vida defendendo os posicionamentos das empresas – não só as jornalísticas, mas toda e qualquer empresa – em detrimento das demandas dos seus pares, ainda que apenas em conversas privadas, em rodas de bar, porque, como lisos que são (“malandro é malando mesmo e otário é otário mesmo”), jamais se expõem publicamente? Pra isso tudo, para eles, para essa “classe”?

Não, meus queridos, não para isso (e a pergunta justa não é “para que”, mas sim “por que”, porque “para que” pressupõe finalidade e “por que” pressupõe causa. Finalidade tem caráter utilitário, causa é imanente).

Por idealismo. Só se entra num sindicato de jornalistas – ou só se deveria entrar para um sindicato qualquer que seja a categoria –, só se mergulha nessa missão de defender os interesses de classes essencialmente desunidas, apenas e tão somente por idealismo, nada mais.

Um idealismo que extrapola as relações trabalhistas, que extrapola as relações profissionais, que extrapola as relações pessoais. Um idealismo estrutural, amplo, que não se restringe a um dever moral para com uma só classe, mas um dever para com o Homem, para com todo e qualquer ser humano. Um idealismo visceral, logo, incontornável para quem o tem. E é aquele negócio, é como fé em Deus: ou se tem, ou não se tem. Não se compra na lojinha da esquina.

Portanto, se você não tiver esse idealismo, se você quiser entrar para o sindicato apenas para conseguir aquele colchão confortável e egoísta de não ser demitido por um tempo quando o bicho pegar na tua empresa, não entre. Porque você estaria mentindo. Mentindo para a classe e mentindo para si mesmo. E, nesse caso, estaria resplandecentemente expondo, enfim, sem máscaras, a sua hipocrisia.

*A data “(5 de dezembro de 2018)” foi adicionada em uma atualização nesta publicação em 20/06/2023. O crédito foi deslocado do final para o início deste artigo de opinião na mesma data. O link para a foto onde a manifestação aconteceu foi mantido, conforme já constava na publicação inicial.

Compartilhe: