O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná (Sindijor Norte PR) divulga carta de repúdio compartilhada pelo Conselho Municipal de Promoção de Igualdade Racial de Londrina a um colunista do jornal Folha de Londrina. O Conselho, tal como o Sindijor Norte PR, acreditam que o autor Domingos Pelegrini foi racista.


CARTA DE REPÚDIO DO CONSELHO MUNICIPAL DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL DE LONDRINA

O Conselho Municipal de Promoção de Igualdade Racial (CMPIR) de Londrina, ao qual compete representar o povo negro de nossa cidade, vem a público manifestar sua indignação, constrangimento e repúdio ao texto publicado na Folha 2, do jornal Folha de Londrina, na coluna “Aos Domingos Pellegrini”, edição 20 e 21 de março, sob o título “Macaco com Orgulho”. Inicialmente, é preciso apontar a problemática da imagem usada para ilustrar a crônica. Trata-se de Tarzan, o rei da selva, ícone representante da brutal exploração europeia no Continente Africano. Logo de cara, uma péssima escolha, visto que a história do povo negro é repleta de figuras importantes – os nossos verdadeiros heróis – que representam a força, a inteligência e a resistência dos nossos.

Não bastasse a imagem, ao longo do texto, o autor Domingos Pelegrini reforça o caráter racista de uma parcela da população brasileira ao se lançar em uma viagem pseudo-científica para justificar o porquê pessoas negras não podem se ofender ao serem chamadas de macacos. Ao mesmo tempo, ele contrabalaceia com outras cacterísticas deturpadas de outros povos, num pretenso esforço de ser “elogioso” as características físicas de nosso povo.

Não somos macacos, senhor escritor, e vamos lhe explicar – já que mais uma vez a branquitude se nega a aprender com o que o povo preto deste país vem gritando há séculos – o porquê. Associar o povo preto a macaco é animaliza-lo, algo que justificou a escravidão lá atrás. Por sermos considerados sem humanidade, sem alma, sem capacidade intelectual para trabalhos que não fossem braçais – ou seja, animais –, fomos arrancados de nossas terras, vendidos como mercadoria, impedidos de ter acesso a condições dignas de sobrevivência, fomos marginalizados. Quem desejava nos ofender, marcar o espaço que nos foi destinado, gritava – e ainda grita: “macaco!”.

Além disso, trata-se de querer colocar esse grupo social um passo abaixo na escala da evolução. Sendo assim, animais que somos, temos menos direitos do que seres humanos e é por isso que um corpo preto estendido no chão, morto a tiros sem nenhuma justificativa plausível, não espanta, não causa revolta. Somos animais, animais não têm valor.

É preciso ainda colocar que, mais que um xingamento, chamar uma pessoa preta de macaco é um crime. Surpreenda-se, caro colunista: é RACISMO!

Temos consciência da grandiosa importância do Continente Africano, desde os primórdios da humanidade até aqui. Não somos nós que precisamos aprender, nós sentimos em nossa pele diariamente o peso que se carrega por fazer parte desse povo. Ao contrário, são os brancos que precisam entender a magnitude de África e parar de retratá-la apenas como um local de crianças famintas, famílias miseráveis, doenças e guerras – ideias de uma África desqualificada. O povo preto sabe de sua importância e capacidade, reverenciamos nossos ancestrais, temos orgulho de nossa cultura, é por isso que lutamos por reconhecimento, por direitos que nos foram negados historicamente.

Lamentamos ainda pela infelicidade da data em que tal publicação ocorreu. O dia 21 de março é uma data de luta no calendário do Movimento Negro, é o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial. A publicação de Pelegrini só prova que ainda há muito o que aprender, evoluímos muito pouco na discussão sobre a questão racial, o racismo velado continua operando e, desta vez, veio em forma de crônica. Basta! Queremos ver em jornais, revistas, livros, televisão, sites a NOSSA história, a NOSSA gente e os NOSSOS heróis. Não queiram nos ensinar o que é ser negro ou negra no Brasil, não queiram nos dizer o que devemos ou não aceitar, como devemos ou não nos comportar. A ESCRAVIDÃO JÁ ACABOU! Este 21 de março de 2021 será lembrado pela ousadia de nos dizerem como devemos nos sentir.

Por fim, como nossa luta é por uma sociedade sem racismo, conclamamos à sociedade londrinense, o jornal Folha de Londrina, os demais órgãos de imprensa local, às instituições e, inclusive, o colunista Domingos Peligrini à reflexão: qual é, de fato, seu compromisso antiracista?

Por Matheus, Yá Mukumby e nossos ancestrais!


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