
Nós do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná (Sindijor Norte PR) precisamos falar do descaso dos pedidos públicos e com os jornalistas, isso após toda uma campanha que fizemos para pedir por vacinas contra a Covid-19 à categoria. Então se preparem por que lá vem história.
Desde que as vacinas começaram a chegar ao Brasil e especialmente nos municípios paranaenses, Sindicatos de categoria, como o Sindijor Norte PR, lutaram pela inclusão de trabalhadores considerados essenciais em grupos prioritários de vacinação. Para isso acontecer, havia a necessidade de que Governo Federal, Governo do Paraná ou gestores municipais incluíssem esse direito em seus planos de imunização. Ao que cabe aos paranaenses, o Estado, sob gestão de Ratinho Junior, e os municípios da base se negaram a vacinar a imprensa. O argumento que este Sindicato ouviu nos bastidores foi sempre o mesmo: “a última coisa que o Bolsonaro quer é vacinar jornalistas”. Inclusive, foram exatamente essas as palavras de uma pessoa ligada ao gabinete do prefeito de Maringá, Ulisses Maia.
Enquanto a prefeitura de Londrina negou por duas vezes a vacina e o Governo do Paraná deram retorno aos pedidos, Maringá escolheu a conveniência de responder a uma solicitação mais formal de vacinas, protocolada no município em 25 de junho deste ano, quando essa demanda já era considerada vencida até mesmo pelo Sindijor Norte PR. É preciso pontuar aqui que antes do pedido oficial por imunizantes, essa requisição já vinha sendo feita pela entidade e por jornalistas profissionais. Isso acontecia em conversas com o prefeito, com pessoas do gabinete, secretaria municipal de saúde e até mesmo colegas da assessoria de imprensa em ambientes informais. Em meio a esses papos, houve a sugestão de que este Sindicato encaminhasse oficialmente o pedido amparado em dados, motivando a primeira pesquisa de vacinação da categoria.
Os dados coletados pelo Sindijor Norte PR indicaram que a cobertura de proteção da categoria com vacinas era insuficiente, algo que consta no documento protocolado para o município:
Assim que o protocolo foi feito, o material passou pelo Gabinete do Prefeito, ainda em 25 de junho, e chegou na Secretaria Municipal de Saúde no dia 28, sendo movimentado uma segunda vez no dia 30 do mesmo mês.
Mesmo após a formalidade, este Sindicato e outros jornalistas mantiveram a cobrança por vacinas nos bastidores. Em uma das oportunidades, um dos colegas conseguiu falar com o prefeito de Maringá, Ulisses Maia, que disse que iria conversar sobre o assunto com o secretário de Saúde do município, Marcelo Aguilar Puzzi, por concordar com a solicitação dos jornalistas. Esse retorno aconteceu ainda em junho, garantindo que Puzzi era favorável à demanda, desde que a ordem viesse de alguém de cima – neste caso, ao que cabe à administração local, ao prefeito.
Apenas como lembrete, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), estados e municípios sempre tiveram autonomia de decisão sobre as vacinas, então sim, o município de Maringá poderia ter incluído jornalistas em seu plano de imunização, tal como Londrina e o próprio Paraná. Além de não disponibilizar imunizantes aos jornalistas, profissionais que sempre estiveram na linha de frente da pandemia, todos os citados se ampararam em entendimentos do Ministério da Saúde, na gestão de Jair Bolsonaro, de que apesar de essenciais, estávamos longe de qualquer prioridade. É o mesmo Governo Federal que segue desdenhando de jornalistas e não perde a oportunidade de agredir os profissionais.
Por sorte, a vacinação por idade avançou consideravelmente entre semanas e meses que o Sindijor Norte PR ficou sem o básico que se espera de um gestor público: resposta. Chegamos até a acionar a assessoria de uma vereadora tentando um retorno formal. Em 23 de julho, a prefeitura disse a essa assessoria que responderia o pedido formalmente. Como não houve retorno, uma nova tentativa foi realizada via assessoria no dia 3 de agosto e o retorno que tivemos foi ainda mais surpreendente, de que o Secretário de Saúde de Maringá não teria sequer conhecimento do assunto do pedido que esteve em sua pasta desde junho.
Cansado, mas não exausto, este Sindicato continuou lutando pelo retorno da solicitação, inclusive expondo publicamente a situação aos jornalistas em grupos onde secretários, assessores e outras pessoas ligadas ao município se fazem presentes. Por fim, chegou-se ao entendimento de que pelo avanço por idade, a demanda por novas vacinas, em 19 de agosto, já estava vencida, motivando uma segunda pesquisa para analisar dados da categoria. As informações sobre este segundo levantamento foram divulgados no dia 25 de agosto, mostrando que os jornalistas que receberam a vacina contra a Covid-19 por idade já eram maioria.
De forma conveniente, no dia 26 de agosto, um dia após a divulgação do resultado e de informarmos que a nova coleta de dados encerrou a demanda por vacinas, o pedido tramitou na Prefeitura de Maringá. Primeiro voltando ao Gabinete do Prefeito, Ulisses Maia, e depois com o envio de um ofício no dia 30 de agosto ao Sindicato.
Diretores do Sindijor Norte PR tiveram acesso ao documento somente nesta semana por conta de uma limitação de acesso a itens enviados pelo Correios que chegam até a sede em Londrina – estamos com atendimentos presenciais suspensos desde novembro do ano passado.
A resposta tardia apenas escancara o descaso da Prefeitura de Maringá. Somente respondeu quando conseguiu baixar a idade para os imunizantes, encaminhando uma resposta “padrão” e oportuna. É evidente que apesar de essenciais, profissionais foram e continuam a serem usados apenas como meio de promoção pelos gestores.
Uma prova da autonomia das prefeituras é uma recente decisão do município de vacinar adolescentes de 17 anos, iniciada no dia 17 deste mês, e que foi contra o Plano Nacional de Imunização e a recomendação do Governo do Paraná em seu Plano Estadual, que segue à risca o que diz o Ministério da Saúde. Esse assunto ganhou destaque no noticiário, gerando marketing para a cidade de Maringá e um incômodo ao Estado, que chegou a notificar o município da atitude.
O fato é que jornalistas foram desprezados e desmerecidos por todos os municípios paranaenses. Com relação ao último deles, Maringá, a categoria precisou desistir para só depois ter acesso oficial a uma negativa, que já vinha sendo construída nos bastidores, com covardia. À categoria, fica a reflexão sobre tudo que aconteceu em meio a uma pandemia, às angústias e às perdas. O nosso trabalho é sempre bem-vindo, não apenas quando convém.
Histórico
- Sindicato e jornalistas conversam com autoridades da cidade nos bastidores. Surge a sugestão para apresentar a demanda por vacinas contra a Covid-19 oficialmente, amparada em uma pesquisa.
- Sindicato realiza a pesquisa e formaliza um pedido oficial no dia 25 de junho.
- Pedido tramita do Gabinete do Prefeito até a Secretaria Municipal de Saúde, onde fica parado a partir do dia 30 de junho.
- Sindicato, diretores sindicais, jornalistas e até a assessoria de uma vereadora tentam, mas não conseguem retorno do município de Maringá, enquanto recebem falas informais sobre a negativa da demanda, repassando a responsabilidade ao Governo Federal e ao presidente Jair Bolsonaro.
- Após avanços na vacinação por idade, no dia 19 de agosto o Sindijor Norte PR decide que a demanda por imunizantes aos jornalistas está vencida e faz um segunda pesquisa, com dados divulgados no dia 25 de agosto.
- De forma conveniente, um dia depois do levantamento do Sindicato, a Prefeitura de Maringá dá andamento ao pedido no Gabinete do Prefeito no dia 26 de agosto depois de ficar parado desde 30 de junho na Secretaria de Saúde.
- O pedido ainda permanece no Gabinete no dia 27 de agosto. O retorno só é enviado à categoria, via Correios, no dia 30 do mesmo mês.
Imagem/destaque: Gabriel Rodrigues via Unsplash – Atrás de um muro, a Catedral, principal símbolo de Maringá