Pelo quarto ano consecutivo, o Paraná foi o estado com maior número de ocorrências na região Sul; Ataques diretos a jornalistas aumentaram em 2022, aponta Relatório da FENAJ
A violência política no Brasil atingiu de forma brutal os jornalistas e comunicadores do país. O número de ataques à categoria e a veículos de imprensa no ano passado chegou a 376, e o ex-presidente Jair Bolsonaro foi o principal agressor, sendo responsável por 104 casos (27,66% do total). Os dados fazem parte do Relatório da Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil – 2022, lançado pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), na última quarta-feira (25/01), no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro.
Realizado desde 1989, o levantamento da FENAJ aponta redução de 12,53% nos ataques: foram 54 casos a menos do que os 430 registrados em 2021. No entanto, a queda não significa que os profissionais de mídia tiveram um ambiente mais tranquilo para exercer seu trabalho. Houve crescimento de formas de violência mais diretas e graves, como Ameaças/hostilizações/intimidações, com 77 casos (133,33%), e das Agressões físicas, com 49 casos (aumento de 88,46% em relação ao ano anterior).
“Os ataques contra jornalistas no Brasil estiveram muito interligados à violência política generalizada no país no ano passado, sobretudo no contexto da cobertura das eleições gerais. O que mais nos chamou atenção foi o aumento das agressões diretas, como ameaças, hostilização, intimidações e agressões físicas, cometidas em grande maioria por pessoas comuns, principalmente, pelos apoiadores do ex-presidente Bolsonaro”, avalia Samira de Castro, presidenta da FENAJ.
Tipos de violência
A descredibilização da imprensa, que foi uma estratégia adotada pelo governo Bolsonaro, voltou a ser a violência mais frequente, em 2022, apesar de ter diminuído em comparação com o ano anterior. Foram 87 casos de ataques genéricos e generalizados, que buscaram desqualificar a informação jornalística. Em 2021, foram 131 episódios, portanto, houve uma queda de 33,59%.
A Censura, que foi a categoria de violência com maior número de casos, em 2021, caiu para a terceira posição, em 2022. A queda foi de 54,96% e muito provavelmente se deu pela diminuição no número de denúncias e não dos episódios propriamente ditos, a grande maioria na Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
As Agressões verbais tiveram queda de 20,69%, em comparação com o ano anterior. E os impedimentos ao exercício profissional cresceram 200%: foram sete casos em 2021 e 21, em 2022. Também tiveram crescimento significativo (125%) os Ataques cibernéticos a veículos de comunicação, passando de quatro para nove episódios. As demais categorias, com números menores, tiveram pequenas variações numéricas, em comparação com o ano anterior.
Os agressores
O ex-presidente Jair Bolsonaro, no ano em que era candidato à reeleição, diminuiu os ataques à liberdade de imprensa. Foram 43 casos a menos (29,25%), que os 147 ataques registrados em 2021. Mas ele manteve-se no topo da lista dos agressores, posição que assumiu em 2019.
“Podemos afirmar seguramente que, durante o ciclo de Bolsonaro na Presidência, houve uma institucionalização da violência contra jornalistas, por meio de uma prática governamental sistemática de descredibilizar a imprensa e atacar seus profissionais”, comenta Samira de Castro.
Nos quatro anos do seu mandato, Bolsonaro foi o principal agressor e ainda incentivou seus apoiadores a também se tornarem agressores. De 2019 a 2022, Bolsonaro realizou 570 ataques a veículos de comunicação e aos jornalistas, numa média 142,5 agressões por ano; um ataque a cada dois dias e meio.
Ao longo do mesmo período, houve um crescimento das agressões a jornalistas cometidas por aliados e apoiadores do ex-presidente. Uma das importantes particularidades registradas em 2022 é justamente o fato de que os apoiadores de Bolsonaro chegaram ao segundo lugar na lista dos agressores. Eles foram responsáveis por 80 episódios de violência, 300% a mais que o número registrado em 2021.
Violência por região e estados
O Centro-Oeste permanece sendo a região com maior número de atentados à liberdade de imprensa. “Dos 376 episódios registrados (excluídos 99 em que não se aplicou o critério regional), 98 ocorreram na região, representando 26,06% do total”, explica a presidenta da Federação. O Distrito Federal foi a unidade federativa campeã em números de casos, com 88 ocorrências (30,57%).
O Sudeste, que durante anos foi a campeã em casos de violência contra jornalistas, manteve-se como a segunda região mais violenta para o exercício da profissão, mesma posição ocupada nos dois anos anteriores. Foram 82 ocorrências (28,47% do total). No Sudeste, São Paulo foi o estado mais violento, com 48 casos, três a mais que em 2021.
A Região Norte, que historicamente é a menos violenta para os jornalistas, ultrapassou as regiões Nordeste e Sul, em 2022, registrando um aumento de 112,5% no número de casos, em comparação com 2021. Foram 38 episódios (13,20% do total), 18 a mais que os 16 ocorridos no ano anterior. O Pará manteve-se como estado mais violento da região, com 21 ocorrências.
As regiões Sul e Nordeste registraram o mesmo número de episódios de violência contra jornalistas: 35 cada (12,15% do total). Entre os estados do Nordeste, a Bahia registrou o maior número de ocorrências: 14, o dobro do ano anterior.
Na região Sul do país, o Paraná, pelo quarto ano consecutivo, foi o estado com maior número de ocorrências: foram 19 ataques, nove a mais que os 10 ocorridos no ano anterior. Em segundo lugar, o Rio Grande do Sul registrou 11 casos, cinco a mais que os seis de 2021. Em Santa Catarina, o menos violento da região, foram registrados cinco casos, dois a mais na comparação com o ano de 2021.
A FENAJ também analisou os ataques de gênero. Em 2022, do total de jornalistas vítimas de agressões, 222 (69,37%) foram do sexo masculino e 80 (25%) do sexo feminino. Em 18 casos (5,63%), não foi possível a identificação de gênero.
A violência por tipo de mídia
Os jornalistas que trabalham em televisão foram os mais atingidos pela violência, no ano de 2022. Foram agredidos diretamente, 160 profissionais, entre repórteres e repórteres cinematográficos, representando 41,03% do total de vítimas. Houve um crescimento de 70,21% (66 casos), em comparação com o ano anterior, quando 94 jornalistas que trabalham nessa mídia foram atingidos pelas agressões diretas aos profissionais da categoria.
Na sequência da classificação por tipo de mídia, os jornalistas que trabalham em mídias digitais (portais, sites, blogs e plataformas digitais) foram agredidos em 61 episódios (15,64% do total). O crescimento foi de 38,64% (17 casos), visto que, em 2021, foram 44 casos de agressão nesta categoria de mídia.
Via FENAJ, com modificações do Sindijor Norte PR
Foto/destaque: A presidenta da FENAJ, Samira de Castro, apresentou os números do Relatório da FENAJ em evento realizado no Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio – Autor: Nando Neves