O 1º de maio tem dupla importância para os jornalistas paranaenses. Além de ser o Dia do Trabalhador, é a data-base da negociação salarial da categoria. Daí que a contraproposta à nossa pauta de reivindicações, entregue ontem (30 de abril) pelo patronato, chega como um presente. De grego.
Os empresários da comunicação não apenas ignoraram TODAS as reivindicações dos jornalistas – discutidas e aprovadas em assembleias gerais –, como propuseram o rebaixamento de direitos. Querem reduzir pela metade o valor da hora extra (dos atuais 100% para 50%); congelar o anuênio quando houver Programa de Participação em Resultados; extinguir os critérios para dispensa coletiva; acabar com a exigência de realização de acordo coletivo com os sindicatos para instituição de regime de compensação de horas extras ou banco de horas, e ainda tornar facultativa a assistência dos sindicatos de trabalhadores nas rescisões de contrato.
Em relação ao reajuste salarial, as empresas ofereceram o ínfimo percentual de 1,56%, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC/IBGE) apurado até março de 2018. Tivessem ao menos aplicado o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o percentual seria de 2,68%. A categoria, por sua vez, pede 7,5% para repor perdas acumuladas e garantir um mínimo aumento real.
Confirmando o silêncio mantido nas reuniões feitas até agora entre os sindicatos de trabalhadores e os patronais, a contraproposta não traz NENHUMA menção a cláusulas econômicas reivindicadas pela categoria, como a implantação de vale-alimentação, vale-transporte, adicional de insalubridade, gratificações por qualificação e planos de cargos, carreiras e salários. Também despreza a pauta social, que pede, entre outros itens, licença-paternidade de 30 dias, auxílio-creche independente do número de funcionários e garantia de materiais de segurança (este último item substituído, na proposta patronal, por “palestras sobre segurança”, como se coubesse exclusivamente ao jornalista assegurar sua integridade física nesses tempos de repetidos casos de violência durante as atividades nas ruas).
Já era de se esperar que os patrões, mais unidos do que muitos imaginam (aprendam com eles, colegas!), tentassem estender a toda a categoria regras implantadas por meio de acordos coletivos em algumas empresas. A RPC, por exemplo, há anos já implantou a extensão de jornada dos trabalhadores, pagando, pelas horas extras, metade do que devia antes do acordo. A mesma RPC, ao implantar um Plano de Participação nos Resultados, congelou o anuênio dos funcionários, que com isso acumularam prejuízo ao longo dos anos. Previsível era, também, que os donos de empresas se aproveitassem das brechas da desastrosa Reforma Trabalhista para retirar direitos dos funcionários.
São os empresários dizendo: “eu sou o dono da bola, no meu campo eu crio as regras e se você quiser jogar, tem que me deixar ganhar sempre”. Ignoram que essa relação desrespeitosa com os trabalhadores não prejudica apenas os empregados. Que um profissional minimamente assistido e valorizado trabalha melhor, beneficiando assim também o público que tem visto o jornalismo se deteriorar a cada dia.
É triste ver tamanho descaso, mas as negociações não terminaram. Os profissionais, unidos, podem conquistar o respeito que deveria vir naturalmente. Por isso, jornalista, jogue fora o presente de grego e comemore o Dia do Trabalhador valorizando a si mesmo e se preparando para a luta. O jogo só começou.