A visita do presidente Jair Bolsonaro a Maringá nesta sexta-feira (1º de outubro) foi marcada por um evento com ares de comício eleitoral e desrespeito aos jornalistas. Os profissionais foram isolados em um cercadinho enquanto apoiadores da figura que movimentou o Parque de Exposições do município, comumente utilizado para eventos agropecuários com a comercialização de bovinos, exerciam suas liberdades aplaudindo tudo – ou quase – que ouviam do palanque.
Primeiro é preciso que se pontue que Bolsonaro esteve na cidade para inauguração das obras de ampliação e modernização do Aeroporto Regional de Maringá, mas o tempo se encarregou de estragar o show com chuva e ventos fortes, derrubando boa parte da estrutura que receberia o presidente. O deputado federal Ricardo Barros anunciou uma alternativa, mudando o cenário do Aeroporto para o pavilhão do Parque de Exposições. Na troca do ambiente de voos para o do mugido dos bois, a imprensa se desdobrou para obter informações e divulgar à população sobre a presença da figura “mais representativa do país” na cidade.
Até aí, nada a se dizer, mas o que se seguiu evidencia, mais uma vez, que jornalistas não são bem-vindos, ou ao menos essa foi a clara orientação aos seguranças contratados para o evento. Lembram do cercadinho? Pois então, foi em um que jornalistas foram confinados para realizarem suas coberturas no Parque de Exposições, um tanto afastados do presidente e próximos de apoiadores que, esses sim, exerciam sua liberdade de adoração. Após os discursos de autoridades e vaias, externadas por seguidores de Bolsonaro ao prefeito de Maringá, Ulisses Maia, e ao Governador do Paraná, Ratinho Junior, deu-se a inauguração e todos foram deixando o recinto, menos os jornalistas.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná (Sindijor Norte PR) recebeu informações de que a imprensa ficou em torno de 20 minutos aguardando para sair do local. Se sentiram humilhados dentro desse cercadinho e foram impedidos de ir atrás do presidente Jair Bolsonaro e fazer perguntas que com certeza ele não estaria disposto a ouvir, como sobre suas viagens em tom de comício eleitoral pelo Brasil – incluindo essa, em Maringá, que é reduto de seu líder na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros. Jornalistas, intrépidos como são, acabaram rompendo a barreira dos seguranças e fizeram valer o seu direito de ir e vir.
O Sindijor Norte PR e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) repudiam mais essa tentativa de calar a imprensa, que entendeu muito bem o que aconteceu na cidade neste 1º de outubro. Prender jornalistas não vai nos fazer calar, pelo contrário, é algo que dá forças para combater os mugidos de uma parcela da sociedade que tem regredido no tempo. Sociedade essa que tenta cercear a democracia e quer impor o uso de antolhos a todos para enxergar apenas suas fantasias de um Brasil que só existe na cabeça deles.
Dois jumentos com antolhos. Foi o que entendi. pic.twitter.com/8X42N0wJhY
— Sérgio Augusto (@SergiusAugustus) April 15, 2019
A imprensa não pode ser livre apenas quando é conveniente ao presidente Jair Bolsonaro e certamente não merece ser colocada em cercadinhos, onde lá estão, de fato, aqueles que o apoiam.
Foto: Reprodução Redes Sociais de Jair Bolsonaro – Presidente dá atenção, sem máscara, à apoiadores no Aeroporto de Maringá