O Sindicato dos Jornalistas do Norte do Paraná enviou à Comissão de Ética o caso que estarreceu Londrina nesta semana: a humilhação de um homem na mídia, em programas da TV aberta, inclusive em rede nacional.
O caso aconteceu na última terça-feira. Programas matinais da Rede Massa e do SBT exibiram um vídeo gravado com celular em que um homem ameaçava se matar. A simples exibição da cena já seria reprovável, uma vez que expunha a imagem do indivíduo e nada acrescentava aos telespectadores.
Mas os apresentadores foram além: fizeram piadas sobre o episódio, ridicularizaram o homem e chegaram ao cúmulo de manter a tarja “Dor de Corno” na tela enquanto o vídeo era exibido e repetido várias vezes.
Horas depois, o homem que aparecia no vídeo cometeu suicídio. Embora tudo indicasse que ele já enfrentava sérios problemas emocionais, ficou a dúvida sobre até que ponto o escárnio público na TV contribuiu para o ato extremo.
Faltou aos programas que se dizem “jornalísticos” algo essencial à função: responsabilidade. Com a integridade do homem exposto no programa e com o impacto da reportagem na sociedade. Não apenas difamaram o cidadão e assumiram o risco de agravar seu quadro de depressão, como reforçaram estereótipos e deixaram para o público a lição de que é “normal” e “engraçado” tirar sarro de um ser humano num momento de fragilidade.
É um caso extremo e emblemático por seus desdobramentos, mas não um exemplo isolado de tratamento desumano. Frequentemente, nos ditos “programas policiais”, pessoas são ofendidas, discriminadas e julgadas sem provas para servir aos propósitos de emissoras em busca de audiência.
Com relação ao episódio desta semana, o Sindijor Norte-PR, junto com a Comissão de Ética eleita pelos jornalistas, estuda quais providências podem ser tomadas e cobra publicamente explicações dos envolvidos. O caso deixou claro o que todos já deveriam saber: que decisões editoriais têm consequências, seja em reportagens que tratam de assuntos de grande repercussão coletiva ou da “simples” história de um homem anônimo.