SEM RECEBER – Redação está pronta para greve
Nós, jornalistas de O Diário, podemos entrar em greve nesta quarta-feira (7), por tempo ainda não definido, e gostaríamos de esclarecer aos leitores e à população os motivos da nossa decisão. Estamos enfrentando atraso de salários desde maio de 2016 e, durante todo esse período, mantivemos uma postura complacente e condescendente, cumprindo, com rigor, nosso compromisso com a empresa.
Os atrasos, porém, foram piorando com o passar do tempo. O 13º de 2016 chegou um ano depois – parcelado em duas vezes – e não há qualquer previsão da empresa para quitar o de 2017. Quem sai de férias, desde julho do ano passado, não recebe o pagamento do benefício, ou seja, os 30 dias de descanso se tornaram um mês de “cabeça quente”, com os empregados refletindo em casa sobre como pagarão as contas. Há casos de trabalhadores que voltaram das férias e a empresa levou três meses, em pequenas parcelas, para finalmente completar o pagamento.
A empresa também não deposita o FGTS desde maio de 2016. E, embora o jornal tenha contratado funcionários durante esse período, há casos de colaboradores que não receberam um único centavo durante os dois primeiros meses de trabalho.
Nos últimos dois anos, a Redação de O Diário encolheu. Quem foi demitido nada recebeu e enfrenta a fila da Justiça do Trabalho em busca de direitos estabelecidos por lei.
Num cenário lastimável, cada jornalista vai lutando com suas economias. São 24 meses de contas atrasadas, juros nos bancos, perda de patrimônio, poupanças esvaziadas, financiamentos arruinados. Ainda assim, nós, trabalhadores, tentamos dialogar com a empresa que, por tantos anos nos pagou corretamente e nos permite atuar no que gostamos, esse jornalismo feito com garra, apesar das condições externas.
Com o engajamento de todos os jornalistas, a empresa conseguiu aprovar o adiamento da assembleia de recuperação judicial no final do ano passado para fazer mudanças na proposta – rejeitada pela maioria dos credores – e apresentar, agora em fevereiro, uma nova alternativa. Será que o mesmo empenho em elaborar planos de pagamentos a bancos, empresas e outros credores também não poderia ser destinado para nós, jornalistas?
Nós não pedimos muito: solicitamos à empresa um plano de parcelamento dos atrasados. Conscientes da condição econômica da empresa, sugerimos que as correções, juros e mora nem lembrados fossem quitados somente adiante, em data não definida. Mas a empresa nem ao menos nos ofereceu uma reles proposta. O que fazer diante disso? Em qual outro jornal – do país? do mundo? – funcionários permaneceram tanto tempo sem receber salários e, passivos e submissos, seguiram publicando reportagens, entrevistas, notas, fotografias, mantendo a rotina jornalística? Nós, jornalistas, não vamos mais tolerar, subservientes, que nossos direitos sejam solenemente ignorados pela empresa. Na esperança de tempos justos e melhores, é com pesar que redigimos essa carta aos nossos leitores. “A comédia é finita”, já cantava Pagliacci na famosa ópera de Leoncavallo.
Cordialmente,
Redação de O Diário
Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Londrina e Região